terça-feira, 19 de maio de 2015

Contradições insanáveis: o FMI, a UTAO e o CFP.


O FMI tem sido pródigo na elaboração dos mais variados relatórios sobre a aplicação de medidas de austeridade. Por vezes deparamo-nos com relatórios da espécie “bonzinhos” que falam dos malefícios da austeridade como quem fala dos malefícios do tabaco em jeito de pós-aplicação. Houve alturas em que estes relatórios serviram para dar uma imagem benevolente do FMI, visto como um autêntico “bicho-papão” e até deu suporte a um pedido de desculpas ao melhor estilo de “Perdoa-me”. Contudo, o FMI não vive só de relatórios humanizados, tem também a sua quota-parte de relatórios vindos directamente de um dos círculos do inferno de Dante. Nestes, a defesa intransigente e paternalista de uma receita de austeridade em doses cavalares como a salvação de um povo tem vindo a servir de suporte para a aplicação das mesmas, como se o FMI fosse uma entidade sobrenatural e omnisciente da ciência económica. No fundo, ao sabor dos ventos e do ritmo de trabalho dos seus funcionários, o FMI consegue entrar em contradição pelo menos uma vez por semestre, o que poderemos apelidar de uma boa média, sendo que a coerência, a existir, apenas se reporta às constantes tropelias que deveriam envergonhar quem gere uma das maiores entidades financeiras a nível mundial.


Já no plano interno, Teodora Cardoso, Presidente do Conselho Superior do Conselho das Finanças Públicas veio afirmar que nem esta entidade nem a UTAO podem realizar qualquer análise ao cenário macroeconómico apresentado pelo Partido Socialista e que o PSD desejava ardentemente submeter ao crivo das referidas entidades. No fundo, Teodora Cardoso veio apenas confirmar que a ideia do PSD era impraticável e ridícula atendendo às atribuições de ambas as entidades, as quais têm como desígnio a análise das contas públicas e não a análise de cenários macroeconómicos de crivo ideológico propostos por partidos políticos e que nem sequer são uma certeza a nível da implementação. Curioso é saber que esta tentativa de utilização de organismos independentes e públicos, com a missão clara de analisar e avaliar as contas públicas, leva a uma de duas conclusões, ou o PSD está tão preocupado com a apresentação de uma alternativa que em tudo parece apontar para um caminho diferente do trilhado até aqui que se esqueceu, mais uma vez, que existem regras emanadas da Lei (já que as da Constituição da República Portuguesa representam para estes um empecilho e um aborrecimento) que excluíam a análise do cenário por parte da UTAO e da CPF, ou então, e algo que já não se pode considerar uma novidade, face à ausência de propostas e cenários próprios, utilizaram o nome da UTAO e da CPF para mera manobra de diversão, bem sabendo da impossibilidade legal de realização da sua proposta. 

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